Se não gostas de mim, não fiques
Se não gostas de mim, não fiques. Vai embora assim que tenhas boleia. Deixa-me ficar deste lado, no meu canto. Deixa-me ficar onde pertenço, onde nunca te sentiste em casa. Não fiques para ver. Vai. E vai sem bilhete de volta.
Se não gostas de mim, não fiques. Leva tudo o que a ti te identifica. Leva tudo aquilo que és. Não vais deixar saudade. Não se tem saudade do que nunca foi bom. Não se tem saudade do que sempre foi dor.
Se não gostas de mim, não fiques. Pergunto-me porque continuas a observar-me de perto. Porque permaneces calado de forma a passares despercebido. Não te iludas em pensar que não te vejo. Não te escondas por entre sombras que tão bem conheço. Eu sei que continuas aí porque queres assistir ao meu percurso. Esperas que falhe. Esperas que chore de joelhos esfolados no chão. Esperas que implore o teu auxílio. E esperas negá-lo da forma mais sádica que encontrares. Rezas para que nada seja da forma que idealizei. Que nada seja sequer parecido ao que um dia imaginei ser possível para mim mesma.
Na realidade, tens os dedos entrelaçados desejando que eu desista a qualquer momento. Já puxaste uma cadeira para assistir ao espectáculo da primeira fila. Permaneces quieto sem consciência daquilo que deixas figurar de ti próprio. Fitas-me à procura da minha queda. E eu deixo que me olhes. Deixo que me aprecies. Deixo que me invejes. Afinal não passa disso. Admite. Procuras uma silhueta desfeita. Mas só encontras um corpo hirto e sereno. E essa sede tão egoísta só me deixa mais ansiosa de cortar a meta. Essa sede tão egoísta só me traz a adrenalina de chegar ao êxtase de mim própria. Corre-me nas veias a coragem de ser mais do que sou hoje. A coragem de mostrar ao mundo daquilo que sou feita. A coragem de te entregar em mãos a minha vitória. Sem ressentimentos. Sem inimizades. Sem remorsos. Vou entregar-ta como se dela dependesses. E nesse dia, em mim apenas presenciarás um sorriso maior do que a pessoa em que te tornaste.
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