És inacessível


És inacessível.
Não encontro outra forma de te descrever. É como se eu não tivesse direito à entrada na tua vida. Como se fosses demasiado para a pessoa que sou. Como se fosses uma qualquer forma superior de ser-humano. Negas-me repetidamente com a frieza que te é característica e a pouca humildade que demonstras. Não sei se tudo isso é escárnio ou se tudo isso é medo de te aproximares de mim. Medo de não conseguires manter essa postura tão nivelada à tua altura. Medo de me quereres mais do que algum dia quiseste alguém. Medo de me desejares de uma forma tão louca quanto aquela que eu te desejo todas as noites.
E assim continuamos. Continuamos as nossas vidas sem o calor que nos falta na alma. Continuamos despidos de prazer e sem os serões com a pele suada. Continuamos separados pelas barreiras invisíveis que crias para te sentires melhor contigo própria. Continuamos, estupidamente, longe um do outro. Longe daquilo que ainda nem provámos mas que já queremos repetir. Na verdade, provocas-me com a intenção de me teres e afastas-me com a certeza de que me magoas. O teu discurso é calculista e manobrado de forma a parecer que me odeias. Permaneces sozinha no pedestal em que te colocaste e prossegues sem brilho nesses olhos tão profundos. Continuas longe do mundo real, daquele mundo que nos faz sentir vivos, por dentro e por fora. Continuas perto daquilo que sempre ambicionaste ter materialmente e tão distante daquilo que inquestionavelmente precisas no que toca ao coração. E enquanto isso, brincas comigo maliciosamente. Feres-me sem te acusares e olhas-me com o egoísmo natural de quem se sente mais do que tudo o resto. Acreditas firmemente que vou ficar para sempre à tua mercê. Convences-te que estarei sempre preso aos teus pés e recusas-te a sequer pensar no cansaço que me trazes. 

Porém tudo tem um tempo, e o teu está a esgotar-se. Por muito que te queira nos meus braços deixei de ter forças para lutar. És impossível de alcançar. És inacessível. Ou talvez apenas te faças disso. E talvez eu desista de vez da tentativa de entrar num espaço ao qual não fui dotado para pertencer.
Oxalá não te arrependas.

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