Caí no fundo

Caí no fundo. Após longos meses de tentativas falhadas, eu caí no fundo. Fiz-me de forte. Fiz-me de parva até. Mas toda eu era sinais de quem estava prestes a cair. Só eu é que não os via. Ou fingia não ver. Era mais confortável. 

Arrastei-me para manter o essencial. Para manter as trivialidades. Mas chorava, cada vez que tinha que me levantar da cama. A cama onde não tinha sequer chegado a adormecer. Um verdadeiro pesadelo. Não tenho melhor forma de definir as minhas noites. Definhava cada vez que olhava para o relógio. As insónias chegavam a ferir-me os olhos. O meu corpo já não suportava o peso da minha mala. E o mundo estava cada vez mais nublado. De dia para dia. Com um nevoeiro cerrado que me deixava frequentemente zonza. Mas mesmo assim, fingi que podia continuar. Até ao dia em que caí. Não imaginam a dor do embate. Ainda sinto as marcas na pele e sobretudo na alma. Mas acreditem que o mais difícil foi admitir ao mundo e a mim própria que tinha falhado. Que tinha chegado ao limite de mim própria. 

E hoje, raros são os que me reconhecem. Nem sequer eu me reconheço. Hoje os dias são mais lentos, mas a conscinência é mais pesada. Culpo-me, demasiadas vezes, por aquilo que não consegui trazer nas minhas costas. Por ter largado tudo de forma desesperada. Por ter fugido. Eu fugi. Não mantive o foco, nem a imagem que tinham de mim. Mas assim foi. Assim me limitei a fazer. Numa tentativa desesperada de não cair em desgraça. 

Hoje, sobram-me apenas desejos. O desejo de voltar a respirar-me, de voltar a sentir-me, de voltar a gostar de mim. O desejo de trocar a sonolência por energia e o desespero por novos projetos. Caí no fundo. E é difícil para caralho admitir tamanha fraqueza.

Inês


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Tenho 25 motivos

Escolheste-me, mas eu tenho a melhor claque do mundo