Querido diário, hoje o dia foi extenuante

Querido diário, hoje o dia foi extenuante.

Tentei distrair-me. Ocupei-me, mesmo não tendo com o que me ocupar, e tentei pôr de lado o mal que trago comigo.
Quanto mais negamos uma coisa que existe, quanto mais a relativizamos quando ela não é relativa, mais ela ganha força. Torna-se maior que nós, e muitas vezes, invencível. Tento portanto aceitar a realidade e lutar contra algo que é real. Eu sei que é real.
E agora tudo depende de mim. De ti. De nós.
Não quero afundar-me mais. Cada vez está mais escuro aqui. A única coisa que me tranquiliza é que tu um dia vais entender-me. Ou pelo menos, aceitar-me. Pelo menos, é isso que eu acho. Agarro-me a essa ideia como se dela dependesse. 
Meu querido diário, peço-te que me aceites. A mim, às minhas crises emocionais, à minha falta de "quês" e porquês, às inseguranças repetitivas e a todos os pânicos que perduram dentro do meu peito.
Mas eu não gosto de estar assim. De ser assim. Não gosto de mergulhar todos os dias em choros. Choros que já são secos porque as lágrimas já foram gastas. Não julgues que gosto. E não me julgues por não gostar. Não gosto de exigir nada de ninguém. Nem de ser rude com o meu reflexo. É uma sensação de impotência perante mim mesma. Quero ser a pessoa que era, mas não consigo. É como se estivesses afectado a um nível psíquico de tal forma que isso não te permite viver, apenas e só, existir. Reages a estímulos internos que não têm razão para permanecer em ti. Mas tens de continuar. Eles movem-te. É macabro.
Não vale a pena tentar arranjar desculpas. Razões neutras ou explicações escritas em livros com teorias sobre almas doentes. Na verdade, quando a alma está doente, o corpo cede e toda a pessoa que eras deixa de ser visível a olho nú. Porquê tentar explicar algo que é tão unicamente claro para cada um?
A única coisa que podes fazer, meu querido diário, é não fazer perguntas. E mesmo quando ficares muito zangado comigo, peço-te para que não te enerves com as minhas atitudes. Tenta antes atenuar a minha dor. Tenta que eu veja a cor do céu. Relembra-me o sabor da água salgada. Prova-me que todos podemos falhar, vir ao fundo de nós mesmos e querer desistir. Prova-me que a única coisa que nos diferencia é a força com que empurramos o chão para nos levantarmos.

Meu querido diário, não desistas de mim. Tu ainda tens tantas linhas em branco e eu tenho tanta tinta para correr sobre as tuas folhas. 

Da sempre tua,
Inês




Comentários

Mensagens populares deste blogue

Caí no fundo

Tenho 25 motivos

Escolheste-me, mas eu tenho a melhor claque do mundo