Pai


Sem expressão abraçaste-me.
Perdi-me em silêncios porque não valia a pena dizer nada. Senti a força dos teus braços e a tua respiração forte. O aconchego era a única coisa que nos restava. E o encaixe era perfeito, como se Deus soubesse, que um dia, iríamos precisar de um abraço como este.
As minhas pernas ainda tremiam, mas sentia as minhas mãos mais quentes agora. Partilhámos a dor naquele abraço. Ela era tanto minha como tua. E era assim que tinha que ser.
Apertaste-me com mais força. Não quiseste saber da fragilidade dos ossos que eu tinha no corpo. Preocupaste-te com a fragilidade que eu tinha na alma. E quanto mais me apertavas, mais ela se desvanecia por segundos.
O tempo parecia ter parado. Não havia relógio que ditasse o fim daquele momento. Não havia ninguém que nos tirasse dali. Porque afinal, só nos tínhamos um ao outro.
Sem expressão abraçaste-me. Abraçaste-me sem perguntas, sem nada em troca. Abraçaste-me como só tu o sabes fazer.
E por mais que não houvesse esperança, havia um abrigo. Abraçaste-me dessa maneira tão tua. Tão nossa. Abraçaste-me como melhor sabias. Abraçaste-me como um pai abraça um filho.

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