Posso confiar cegamente em ti quando és tu que escolhes o nosso caminho?

Tu não podes estar a deixar-me aos poucos. Não podes. Não podes estar louco o suficiente para achar que tudo até aqui foi uma loucura. Não podes estar a sucumbir a um medo irracional e a uma sociedade que se julga perfeita quando esconde tantos demónios. Tu não podes ter estado iludido estes meses. Não me podes ter iludido estes meses. Não podes ter pegado em mim sem certezas. Porque tu pegaste em mim. Pegaste no meu corpo frágil e construíste, de sorriso no rosto, o único lugar onde me sinto em casa. Diz-me a verdade. Colocaste-me neste teu mundo e agora queres deixar-me sozinha nele? Quão profunda seria essa facada nas costas que ainda são tuas?

Não. Tu não podes estar a deixar-me aos poucos. Quero contrariar esta ansiedade que me devora as entranhas. Quero acreditar que bebeste demais e que amanhã acordarás convicto que os passos que já deste em frente são o início de algo maravilhoso. Como podes preferir voltar atrás para algo que já sabes que não te preenche? Tu já sabes o que te espera. Já sabes que aquilo que te espera não te faz sentir vivo. E depois de tudo o que te dei, verás como ainda menos parecerá. Vai parecer-te (quase) nulo. E pior do que isso tudo, é que vais anular-te a ti próprio. Porque não tiveste coragem de viver mais. E tenho a certeza que voltarás a fazer sexo (amor decerto que não) e que todo esse episódio será desencadeado de olhos fechados. Perguntas tu 'porquê de olhos fechados?'. Porque em todos esses minutos de prazer teatral, imaginarás o meu corpo debaixo do teu. Pensarás que sou eu que te abracarei no final. Que sou eu que te acaricio. Vais tentar ouvir as minhas juras de amor debaixo dos lençóis. Vais procurar as minhas mãos e o meu batimento cardíaco acelerado. Mas o silêncio permancerá como rei (como sempre o tiveste) e a claridade da janela vai mostrar-te que não sou eu que estou aí. A puta da claridade da janela vai mostrar-te que nunca mais serei eu a estar aí. E o quente onde pertenceste, será apenas uma memória nessa tua alma perdida para sempre.

Não. Tu não podes estar a deixar-me aos poucos. Como podes ter medo de ser insuficiente quando tudo isso só depende de ti? Não tenho qualquer receio do que aí vem. Foda-se, que venha! Que venha tudo!  Que venham todos! A força que me percorre o corpo chega para nós os dois. Para ti e para mim. E se, no final do dia, o cansaço nos vencer... Teremos sempre um episódio em falta daquela série da Netflix e uma cama quente onde nos podemos voltar a encontrar como seres-humanos. 

Posso confiar cegamente em ti quando és tu que escolhes o nosso caminho?

Inês








Comentários

Mensagens populares deste blogue

Caí no fundo

Tenho 25 motivos

Escolheste-me, mas eu tenho a melhor claque do mundo