És o meu poema.

És o meu poema. 

O preferido. Aquele que não fala só de ti. Aquele que fala de nós. Nomeadamente porque a individualidade parece se ter perdido no dia em que nos descobrimos. E desta forma, perco-me nas tuas linhas. Perco-me de amor. Perco-me em finais felizes inventados antes de adormecer na cama de solteira a que me submeto. E continuo a procurar perder-me mais uma vez. Sempre mais uma vez. Porque não tenho racionalidade suficiente para me encontrar. Perdi a bússola pelo caminho. E na correria das nossas vidas, deixei de investir tempo a procurá-la. 

Descrevo-te em parágrafos soltos. Em palavras tantas vezes complexas. És como as ondas do mar. Maioritariamente reconfortante, mas pontualmente devastador. E nem sempre a poesia traz finais felizes. A poesia é apenas uma maneira bonita de descrever o que de si traz amargura. A poesia tem em si a capacidade de ser profunda. Intensa. Recorrentemente obscura. Não transportasse ela para o léxico toda a confusão de um ser-humano. Incrível.

E acho que é assim que te vejo. Envolto nas flores que te coloco, disfarçando as noites de insónia que me devolves. Estás mascarado perante o amor que te tenho, porque até agora isso tem chegado para ficar. Mas eu descrevo-te como um poema extenso. Maduro à força. Consequência do tempo que não tivemos para amadurecer. Intenso desde a primeira linha. Provavelmente porque nunca tínhamos provado nada melhor. E embora escrever-te tivesse sido tão fácil, ler-te já me machuca. Ler-te já me dói. Todos os dias um bocadinho mais. E a dor que era enevoada, hoje parece mais sólida e real do que em qualquer outro momento.

Peço-te apenas que não me deixes cicatrizes. Não tenho pele que reste para mais uma guerra perdida. E tu não queres ser o culpado por mais um corpo desfeito.

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