Éramos para sempre. Mas decidiste partir.

Eras o meu dia-a-dia. A minha normalidade. Eras as manhãs sonolentas desgastadas pelas nossas noites prolongadas. Eras o aconchego e o colo que precisava tantas vezes. Eras o frio do inverno e o quente do meu verão. Não deixavas que me perdesse. Eras atento. A bússola no meio do deserto que criei à minha volta. Eras a certeza de que a teu lado iria dar um rumo à minha vida. E fosse ele qual fosse, contigo havia de resultar. Porque eras, efectivamente, a minha única esperança de ser absolutamente feliz.
Mas partiste. Partiste da pior forma de todas. E eu continuo a não aceitar a maneira como decidiste abandonar-nos. Largaste tudo sem que me desses tempo para aprender a viver sem ti. Foste na busca de um sonho que não era o teu, de uma realidade que não era aquela à qual estavas concebido. Foste pela curiosidade, pela tua mania de te dares a toda a gente. Foste atrás de um sorriso que não era o meu, atrás de um vulto que não cabia na minha altura. E o mais irónico de toda esta história, é que achaste que iria continuar aqui, constantemente, a ser tua conselheira nas horas vagas. Mas não há amor nem amizade que resista a tantas mentiras encenadas. A tantas promessas partidas em pedacinhos. A mentira consome e tu consumiste tudo aquilo que nós éramos. Consumiste tudo aquilo que eu era. Deixaste que levasse o barco sozinha, mesmo quando sabias que poucas forças me restavam. Não fazes ideia de tudo aquilo que sofri em silêncio. A ansiedade era tal que perdia a visão para tudo aquilo que me rodeava. Perdi o norte. Não fazes ideia das horas que chorei. Da negação que senti. Tantas vezes prendi a cabeça na almofada e gritei. Não quis acreditar que tenhas tido a coragem para ser aquilo que nunca pensei que conseguisses ser. Eu tinha a certeza de que eras diferente. Tinha toda a certeza. Não quis aceitar que o nosso fim tinha chegado e que esse fim era justificado por um motivo tão deplorável. E nesta confusão, a minha cabeça queria odiar-te, mas o meu coração pedia-me que te implorasse para voltares.
Hoje, depois de tantos dias entre nós que não desataste nem procuraste desatar, coloquei o meu orgulho à tua frente. Chamei o amor-próprio que tão bem conhecia de outros tempos, e deixei que ele ficasse no meu pensamento e nas minhas prioridades. Hoje, despeço-me de ti com a certeza de que fiz tudo. Tudo o que era humanamente possível. Despeço-me de ti com a coragem que me caracteriza e a dor que ainda me desfaz em lágrimas nas noites de chuva miúda. Hoje, digo adeus ao amor que jurei ser para toda a vida. Digo adeus ao ser que me preencheu como Mulher durante anos de partilha intensa. Digo adeus com a voz insegura, mas sem intenções de voltar a olhar por cima do ombro. Parto com a certeza de que fomos tudo o que queríamos ser, de que vivemos tudo o que era suposto viver e de que nada do que te dei foi demasiado. Porque afinal, nunca se dá demasiado quando se ama. 
Por fim, deixo-te também com uma certeza. A certeza maior de todas. Aquela da qual não tenho qualquer dúvida: ela nunca chegará aos meus calcanhares.

Boa sorte,
Inês











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