Foram tantos dias, tantas horas, tantos minutos


Foram tantos dias, tantas horas, tantos minutos. Foram olhares envergonhados, cartas no correio, mãos dadas e juras de amor.

E a dança que te conquistou? Aquela que foi dançada ao som da música que declarámos ser só nossa.
Foi o dia mais feliz das nossas vidas. O dia que trouxe a noite mais longa passada a dois, onde dois corpos se uniram sem pedir permissão. O branco do teu vestido ficou guardado na minha memória e hoje não consigo pensar em mais nada.
Foi o carro partilhado, a casa partilhada. Foram segredos partilhados, filhos partilhados, vidas partilhadas. Foram noites e manhãs de risos e piqueniques no jardim da nossa terra.
Foram também discussões feias. Palavras feias que acabaram sempre com abraços apertados.
Foram tantos dias, tantas horas, tantos minutos. Fui teu amante, teu namorado, teu marido, teu confidente, teu abrigo. Fui tudo e tu foste mais que isso.
Foram tantos dias, tantas horas, tantos minutos. Decorei cada traço do teu rosto e as sombras do teu corpo, e embora o tempo tenha levado muita coisa, deixou os teus olhos rasgados e esse sorriso que foi sempre o mais bonito que alguma vez presenciei. E tive pena de não te ter fotografado mais vezes. Uma mulher como tu merecia ser fotografada todos os dias. Perdoa-me por isso.
Foram tantos dias, tantas horas, tantos minutos. Não houve mentiras, foi tudo tão verdade. De uma maneira ou de outra, tudo foi dito. Tudo era claro e era assim que tinha que ser.
Foram tantos dias, tantas horas, tantos minutos. Foram tantas as tardes em que foste tu que me salvaste depois de dias duros. Bastava-me ver-te para arrumar na gaveta o cansaço, o medo e a desilusão que fui colhendo quanto mais conhecia outros.
Foram tantos dias, tantas horas, tantos minutos, em que o teu ombro foi o meu melhor amigo. Ouviu-me, acolheu-me e deixou-me dormir. Quanto preciso dele agora.
Mas agora és tu que queres descansar. Não me questiono sobre o porquê. Deixei-me disso. Também mereces dormir sobre o meu ombro. Fomos durante uma vida inteira ingenuamente irracionais, fomos afortunados, fomos só tu e eu. E, no final de contas, fomos sobretudo e sobre todos, felizes.
Agora és tu que mereces descansar. E posso prometer-te que continuarei a guardar cada traço do teu rosto e todas as sombras do teu corpo, que continuarei a rever as fotografias com os teus olhos rasgados e com o sorriso mais bonito que alguma vez presenciei, sabes porquê?
Porque foram tantos dias, tantas horas, tantos minutos em que me esqueci de tanta coisa, mas em que nunca me esqueci de como amar-te.

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