Pai, meu querido Pai - Como pudeste partir quando tinhas tanto pelo que ficar?

Pai, meu querido Pai...

Tu avisaste-me e eu não escutei. Permaneci serena perante o teu telefonema, nunca esperando que fosse o último. Tu avisaste-me e eu não corri para os teus braços. E é esta a mágoa que nunca vou arrancar do peito. Parece que foi ontem. Parece que foi ontem que me contaram que tinhas ido embora. Nesse dia tive de fazer um esforço maior que o habitual para raciocinar. Não consegui, instantaneamente, encadear as palavras que me estavam a ser transmitidas. Demorei alguns minutos a interiorizar cada uma delas. Demorei largos minutos a conceber uma ideia clara perante o seu significado. E foi aí que o meu corpo caiu num vazio indescritível. As minhas mãos ficaram tão gélidas que me incapacitaram de as mover. Os meus olhos fecharam-se e foi no meu silêncio que senti, pela primeira vez, os gritos da minha alma. Foi apenas nesse momento que finalmente acordei do sono profundo onde me tinha colocado por um tempo indeterminado. Os meus músculos contraíram-se e, sem avisar, toda a minha estrutura cedeu. Bati com os joelhos violentamente no chão e chorei. Chorei tanto. Chorei e todo o mundo me ouviu. Chorei como se eu própria tivesse morrido. Eu tinha morrido contigo. Como pudeste partir quando tinhas tanto pelo que ficar?

Hoje, após 2 meses, a dor é tão grande ou ainda maior. Acho que fui apenas aprendendo a controlá-la. Devagarinho, coloquei-a numa caixinha e fechei-a a 7 chaves. Mas é tão difícil, Pai. É tão difícil não ter esse teu abraço. Aquele que me apertava até que os ossos estalassem. É tão difícil não ouvir os teus conselhos, mesmo aqueles que soavam a repreensões. Não sei como colocar em palavras quão doloroso é caminhar sem ti. Quão assustador se tornou tomar decisões sem o teu consentimento. Quão triste é saber que não vais assistir às minhas vitórias. Penso que isso me magoa mais do que não te ter para me amparares as quedas. Não vou esquecer nada. Nenhum dos verões em família. E muito menos as tuas lições. Não só as que me fizeram crescer enquanto Mulher, mas aquelas tão simples como aprender a andar de bicicleta. Lembras-te de quantas vezes caí? E das vezes que me levantaste? Eu lembro-me. Lembro-me tão bem. E ainda oiço o ruído das correntes com falta de óleo no meu inconsciente. Obrigada Pai. Obrigada por todo o amor que me deste. Por tudo aquilo que me transmitiste. Obrigada pelos valores que me incutiste, aqueles que tentarei para sempre manter como Lei. Obrigada. Obrigada. Obrigada. Quero que saibas que serei eternamente grata a Deus por ter sido tua filha. E só espero que ele me coloque no caminho um Homem que me respeite como tu sempre me respeitaste. A cada ano, o meu aniversário será uma oportunidade única para sentir a tua presença. E o dia passou de meu a nosso. Assim o quiseste. Sei que me verás envelhecer. Oxalá que com orgulho. 

Agora descansa. Eu cuido da mãe e da mana.

Inês





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