Talvez a vida queira que eu espere

Acho que por vezes deixo de entender o sentido da vida. Ela prega-me rasteiras quando eu até já sabia andar direita. Surpreende-me quando eu achava que já tinha visto tudo. Cria barreiras quando eu já tinha derrubado um exército inteiro. Consegue confundir-me. Deixar-me zonza. Como se tivesse bebido uns quantos copos de vinho branco. Mas desde cedo que foi sempre assim. Desde cedo aprendi a empurrar o chão para que os meus joelhos não ficassem esfolados. Desde cedo engoli verdades feias. Desde cedo fui obrigada a saber que o mundo não é assim tão bonito. E mesmo quando fui empurrada, fui em frente sem nunca empurrar. E sempre me convenci que se assim era, era porque assim tinha que ser. Sempre me convenci que era isso que me tornava mais real. Mais humana. Como se esse argumento me deixasse mais tranquila durante a noite em que a cama era demasiado grande para uma pessoa só. Em que senti uma solidão perturbante. Na verdade, era apenas ingenuidade. Porque sofrer não traz sabedoria, só traz desapego por mim própria. E desta vez, não sei se és azar ou bonança. Não consigo definir se todo o bem que já me deste vai suportar todo o sofrimento que me causarás. Porque nas histórias tudo tem que fazer sentido, mas na vida real tantas vezes não sabemos o motivo pelo qual continuamos. Eu só sei que vou continuar. Devagar, à velocidade que as minhas pernas permitirem. Mas vou continuar. Prometo-te. Talvez porque acredite que podes ser o meu futuro, embora não faças parte de presente nenhum. Talvez porque queira acreditar nas promessas que me deixas escritas. Talvez porque acho que também mereço ser feliz. Entropeço-me nos sonhos que já construíste no meu subconsciente e luto contra aquilo que só de si já seria proibido. Talvez seja a vida a desafiar-me uma vez mais. Talvez agora queira que eu espere. Como se fosse eu uma mulher de esperas longas. Talvez apenas queira que eu aprenda a aguardar tranquilamente e a aceitar que as melhores coisas vêm quando tudo o resto parece não pertencer aqui.

Inês

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