Mas a mentira tem perna curta. E tua foi dotada de pequenez.

Jogaste um jogo perigoso. De rato e gato. E achaste que eras inteligente o suficiente para que tudo não passasse de um segredo só teu. Ou então, estupidamente pensaste que eu não tinha a perspicácia necessária para perceber a realidade diante dos meus olhos.
Iludiste-me com flores, com mensagens longas, cobertas de sentimentalismos. Não deixavas de me oferecer presentes, daqueles com grandes laços encarnados. Talvez até me os tenhas oferecido mais regularmente que nunca. Talvez porque a consciência te pesava e não querias dormir mal de noite. Compensavas-me assim, irracionalmente, e esperavas que eu continuasse feliz e inteiramente tua.
Mas a mentira tem perna curta. E a tua foi dotada de pequenez. Descobri num acaso propositado. Valeu-me o instinto e a tua fraca capacidade para esconderes o óbvio. Chorei tanto. Gritei tanto. Apertei a almofada contra a face para impedir que me ouvissem. Destruí fotos, tropecei em molduras, percorri a casa descalça e inteirei-me de que seria incapaz de seguir em frente sem te dizer tudo aquilo que merecias ouvir.
E assim foi. Com o mundo destruído e todos os sonhos por cumprir, caminhei na tua direcção. Estava preenchida por uma palidez anormal. Tu sabias que em mim vinha uma tempestade, mas não tinhas ideia do quão forte seria.
Ofendi-te. Ofendi-te ferozmente. Não fui uma senhora, não fui uma mulher bem-educada, não tive bons modos. Não fui o que o resto do mundo esperava de mim. Cegamente chamei-te todos os nomes redutores que o meu dicionário continha. Cegamente fiz-te perceber do quão medíocre eras como ser-humano. Gesticulei como se isso me ajudasse a expelir a raiva, a desilusão e a mágoa. O sentimento de perda era brutal. Preenchia-me todo o corpo e pensamento. Porque afinal, o grande amor da minha vida tinha morrido. E eu não sabia como agir. Morreu no momento em que soube que não me guardavas respeito. E a fase do luto ainda não tinha chegado. Aqueles minutos foram de choque e exteriorização de sentimentos. Foram minutos de guerra interior. Odiei-te mais do que algum dia cheguei a amar-te.
De qualquer maneira, fui decente perante a indecência dos teus actos. Como foste capaz? Destruíste a nossa casa. Destruíste anos de planos. Destruíste um coração. Ironicamente, aquele que dizias proteger para sempre. Desfizeste-nos por uma noite de vez em quando. Uma noite de suor. Uma fugida à normalidade. Desfizeste-nos por sexo. Pelo prazer da carne. Pela fraqueza da alma. Pergunto se isso te fez mais homem. Se valeu a pena. Pergunto se hoje és mais viril. Mais respeitado. Provavelmente, até tu sabes que não.
Ao menos, espero que ela te tenha levado ao expoente da loucura, que te tenha oferecido tudo aquilo que julgavas faltar no nosso mundo. Tenho a certeza que ela te vai receber de braços abertos e partilhará contigo a cama e a vida. Tenho a certeza que ela te ama, que conhece os teus pratos preferidos e todas as cidades que pretendes conhecer. Tenho a certeza que sabe que tens medo de aranhas e que nunca adormeces sem estares coberto por um lençol. Tenho a certeza que ela te vai apoiar depois de um dia de trabalho intenso, que vai esperar-te com o jantar e um sorriso, e que nunca se vai esquecer de te passar a ferro a camisa do dia seguinte.
Mas se tal não for verdade, lamento o teu triste fado. Terás que aprender a viver na solidão constante. Terás que aprender a lidar com as consequências das acções que tomaste. Terás que aprender a viver com a culpa de forma diária. Espero que a sintas como ferros a espetarem-te as costas. Sem dó. De hoje em diante jamais existirás. Morreste. E quando o luto passar, seguirei a minha vida certa de que fiz de tudo, de que fui tudo e de que mais ninguém te daria aquilo que te dei.


Perdeste-me. A saída fica à direita. E não voltes sequer a soletrar o meu nome.

Inês

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Caí no fundo

Tenho 25 motivos

Escolheste-me, mas eu tenho a melhor claque do mundo